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domingo, 12 de dezembro de 2010

Overdose Clarice Lispector

Um dos espaços de meu quarto dedicado a Clarice 
Dia 9 de dezembro de 1977 morrera a maior escritora de todos os tempos.È difícil suportar que ela ainda poderia estar viva,completando 90 anos e escrevendo horrorosamente bem,talvez
se ela não fumasse.Mas talvez não a traz de volta,são apenas suposições na mente de uma fã assídua.Dói como nunca doeu,essa ferida aberta não sara,apenas se anestia com seus livros.
Porque antes dela eu era como Romeu sem Julieta,livro sem palavra,amor sem dor.Ela literalmente mudou minha vida,me fez pensar e largar o conformismo.Ela é feita de matéria brilhante e luxuosa,dessas extinta
há muito tempo.Perdoem-me falar tão com o coração e nunca chegar a verdadeira matéria.Mas se tratando de Clarice Lispector os fatos se tornam água em minha mão.Juro que tentarei descrevê-los.Bom,nascida na Ucrânia durante a viagem de imigração de sua família,chegou ao Brasil,mais especificamente em Macéio, com 2 meses e mudou seu nome que antes era Haia.
Em 1925,mudou-se para o recife e, em 1934  para o Rio De Janeiro,mas sua alma já era nordestina.Publicou seu primeiro livro,Perto do coração selvagem, com 19 anos.Publicou também  Felicidade Clandestina,A hora da estrela,Água viva,A maçã no escuro,Laços de família,A cidade sitiada,Um sopro de vida,etc.Casou-se com Maury Grugel Valente,com quem teve dois filhos,Pedro e Paulo.Acompanhou o marido que era diplomata pelo Pará e Estados Unidos.Se formou em Direito,trabalhou em revistas femininas com os pseudônimos de Helen,Ilka e Teresa.
Separou-se de Maury e, em 1966 sofreu um acidente que mudou sua vida.Dormiu com o cigarro aceso,o que causou um incêndio.Passou 3 dias em coma e dois meses internada e quase teve
seu braço direito amputado.Esse incidente fez  Clarice cair em depressão.Em 1974,seu cachorro Ulisses mordeu sua face e Lispector teve que fazer uma cirugia plástica reparadora.Ahh os fatos não me interessam,são sólidos e não consigo lapidá-los.Perco-me em datas e acabo por falar nada.Não sei descrever o palpável,Clarice não era feita de fatos e sim,de sensações.Bem,acho que a melhor maneira de conhecê-la-ou de se fascinar com seus mistérios-é através de suas obras de arte escritas.Eis alguns trechos espetaculares:

"Como se ela não tivesse suportado sentir o que sentira,desviou subitamente o rosto e olhou uma árvore.Seu coração não bateu no peito,o coração batia oco entre o estômago e os intestinos."

Porque há direito ao grito.
Então eu grito."

"Eu te odeio" disse ela para um homem cujo único crime era o de não amá-la."Eu te odeio",disse muito apressada.Mas não sabia sequer como se fazia.Como cavar na terra até encontrar a água negra,como
encontrar passagem na terra dura e jamais chegar  a si mesma?

E o que o ser humano mais aspira é tornar-se ser humano.

Sou sempre eu mesma,mas com certeza não serei a mesma sempre.

Estou com saudade de mim,ando pouco recolhida,atendendo demais ao telefone,escrevo depressa,vivo depressa.Onde está eu?
Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim-enfim,mas que medo-de mim mesma.

Fico ás vezes reduzida ao essencial,quer dizer,só meu coração bate.

Simplesmente eu sou eu.E você é você.Isto é vasto,vai durar.Olha para mim e me ama.Não tu olhas para ti e te amas.È o que está certo.

Já que sou,o jeito é ser.

Á mulher que não é bonita,mas mulher.Mulher que para mim é anjo e bicho.Se soubesses como te amo,Clarice.Não sabes,mas amo-te com o amor mais ínfimo e pecaminoso.Não amo-te somente dia 09 ou 10 de dezembro,mas  31 milhões, 448 mil e 400 segundos ao ano.

Um comentário:

Camila Paier disse...

Lindo post dedicado à Clarice. E adorei a idéia de ter em teu quarto isso também, quanta sensibilidade - e originalidade. Adorei!
Beijos